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Prefeito Pereira Passos, o demolidor implacável

O presidente Rodrigues Alves estabeleceu como compromisso de campanha a reforma radical da cidade do Rio de Janeiro para torná-la higiênica e saudável e adequá-la ao mundo moderno. Para realização desse compromisso nomeou o engenheiro Lauro Muller como ministro de Viação e Obras Públicas e o engenheiro Francisco Pereira Passos como prefeito do Rio de Janeiro. Por sua vez, o ministro Lauro Muller nomeou duas equipes formadas pelos engenheiros mais experientes em obras portuárias e urbanas para projetarem e construírem o novo porto e as vias de sua ligação à cidade, entre as quais a famosa Avenida Central, hoje denominada Rio Branco.

Pereira Passos, na função de prefeito pôde, então, aplicar o seu projeto de Melhoramentos, feito em 1875.

A cidade do Rio de Janeiro no período 1902 a 1906 transformou-se num gigantesco canteiro de obras e, no final do governo Rodrigues Alves e de sua equipe, tinha se transformado completamente, sendo comparada a uma nova Paris.

Com essas obras ficou consagrada a permanência do Rio como capital do Brasil e passou a influenciar as demais administrações públicas – todas queriam reformar suas cidades para ficarem tão ou mais bonitas do que ela.

Por outro lado, essas cirurgias praticadas sobre o tecido urbano da velha urbe carioca, demolindo prédios de valores históricos e arquitetônicos e ambiências construídas ao longo da formação da cidade, legitimaram ações semelhantes nas demais cidades brasileiras. A primeira metade do século XX pode ser caracterizada como o da demolição de grande parte do patrimônio arquitetônico, urbanístico, histórico e cultural oriundos do período colonial e do século XIX. Essa onda de modernização varreu cidades como São Paulo, Porto Alegre, Recife, Fortaleza, Maceió etc.

O ápice desse urbanismo avassalador do patrimônio da cidade do Rio de Janeiro deu-se quando dos preparativos do Centenário da Independência brasileira que, contraditoriamente, para abrir terreno destinado à montagem da Exposição Internacional de 1922, destruiu o Morro do Castelo com suas edificações históricas, berço da criação da urbe carioca.

Também nesse ano foi resgatado o projeto dos militares republicanos de transferência da capital brasileira, sendo enviada comissão técnica para demarcar o terreno previsto na Constituição de 1891. A partir de então o fantasma da transferência instalou-se no Rio de Janeiro.

As cidades brasileiras agigantaram-se e aumentou, substancialmente, a população urbana composta, em grande parte, de pobres, vítimas da péssima distribuição de renda vigente e da falta de emprego para eles. A esse contingente de pobres urbanos acresceu outro de miseráveis oriundos da migração interna, expulsos pelas falta de condições de permanecerem na área rural, tornando ainda maiores e mais problemáticas as cidades brasileiras.

Os planos urbanísticos realizados nas cidades voltaram-se, em sua grande maioria, para o embelezamento e a geração de novas áreas de moradia para a classe média e rica, para as indústrias e o comércio. Pouco se fez para beneficiar as populações pobres que viviam nos núcleos favelados, em habitações precárias, em áreas de risco e em loteamentos clandestinos.

As cidades brasileiras aprofundaram a imagem das injustiças construídas, historicamente, pelo descaso dos sucessivos governos e de suas discriminatórias políticas social, econômica e cultural, postas a serviço da parcela formada pelos mais aquinhoados.

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